quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tradição por Luiz Humberto Carrião

Os criadores de Gir de tradição e por tradição tem que continuar sendo “puristas” sob pena de negar a Tradição, que para Ananda Coomaraswamy, “representa a doutrina dos princípios primeiros, os quais são inalteráveis.”

A palavra tradição deriva do latim “traditio” que significa transmissão; algo que é transmitido ou transferido do passado para o presente, seguido e partilhado durante gerações.

Os criadores de vanguarda que estão ou procuram estar à frente de seu tempo, através de idéias, ações e experiências científicas, têm que continuar sendo de vanguarda sob pena de admitir a existência fixista da tradição.

São posições antes de qualquer outra, Ideológicas.

Criada no século XIX por Tracy, a palavra ideologia, significa, etimologicamente, ciência das idéias. Pressupõe ação, ao exortar e orientar o grupo a agir no sentido da consecução dos objetivos que se propõe e que considera seus, de direito [royalties à Escola Secundária de Alberto Sampaio].

Em ideologia o errado não existe. Existe sim o contrário. Respeitar o contrário é uma questão de democracia, isto é, a cidadania exercida de maneira soberana, direta ou indiretamente.

Tais concepções, infelizmente, o homem só vem tomá-las em consciência depois de muitos caminhos percorridos. Só então, vem conceber que antanho a essa descoberta serviu mais aos interesses desses ou daqueles, do que a si próprio. Chega então o momento da reflexão. Aí reside o aprendizado da vida.

A escrita como fonte histórica eterniza o pensamento. E este pode advir do senso comum, opiniões que manifestamos ao longo da vida, sem ter a visão do todo, ignorando que as coisas relacionam entre si; ou, pelo senso crítico baseado na Episteme (ciência) buscando um olhar totalizante para os fenômenos contextualizados cada vez mais na especialização da ciência. Permanecer no senso comum é ter uma visão fragmentada da realidade que pode a qualquer instante ser superada através de uma práxis-científica.

E na gir, a práxis-científica já surpreendeu o senso comum. Quando da segunda bateria de touros a serem selecionados para o PMGRG – Programa de Melhoramento Genético da Raça Gir – foi inscrito um animal contextualizado no “gir leiteiro”. As críticas foram avassaladoras. Todavia, no exame de DNA para auferir o percentual de sangue zebuíno, o animal era 100% sangue indiano, ao contrário de um animal daqueles que o criticaram.

O padrão racial por si só não garante a ancestralidade genuína de um animal. Principalmente, num rebanho formado por absorvência. O exemplo acima é uma prova disso. Nem tão pouco a produtividade de uma raça pode ser auferida sobre artificialidades de manejo (alimentação, nutrição e produtos farmacológicos) e trabalhando com indivíduos, não com média de rebanho.

Ao final, em ideologia, a História tem mostrado que sempre um dos contrários acaba como dominante. Neste caso, resta saber o qual.

Luiz Humberto Carrião

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