César Souza:
Você seria capaz de contar a história de uma partida de futebol, ou de uma novela, sem tê-la assistido? Pois é mais ou menos isso o que a maioria das empresas exige dos colaboradores: que se engajem na execução de estratégias sem participarem de sua concepção ou sequer terem sido adequadamente comunicados. Sem ter ao menos “assistido” ao jogo da formulação estratégica, a maioria dos gerentes não consegue fazer a conexão entre o seu trabalho no dia-a-dia e o rumo e objetivos da empresa. Para não falar dos outros que nem gerentes são…
As tradicionais definições do tripé Missão-Visão-Valores, que até serviram no passado para comunicar desejos estratégicos, têm hoje pouca utilidade prática. São frases bem feitas, socialmente corretas, mas sem alma. Continuam alimentando o problema que deveriam resolver – o crescente gap entre as estratégias inteligentes emanadas do topo e o cotidiano daqueles que deveriam executá-las.
São ferramentas como essas que perpetuam a clássica separação entre o pensar e o fazer — numa sinfonia perversa com os frios Business Plans e os mecânicos Balance Score Cards. Nesse modelo reside a origem da falta de comprometimento da maioria das pessoas, tornando-se o motivo pelo qual chegou o momento de utilizar metodologias as quais provocativamente chamo de Plano de Negócios com alma e de BSC com alma.
Recente pesquisa realizada pelo Instituto FranklinCovey com cerca de 2,5 milhões de executivos em vários países apresenta um resultado de tirar o sono: não mais do que 23% concordaram que “a estratégia e objetivos estratégicos são entendidos pelo empregados”. Mais grave: apenas 9% afirmaram que “as equipes de trabalho têm objetivos claros e mensuráveis”.
Pergunto: é esse o percentual de pessoas que não conhece a estratégia da sua empresa? Você está consciente do custo invisível disso? RH, não seria a hora de investir na formação de líderes que façam a gestão de pessoas de forma diferente, definindo causas estratégicas em conjunto com suas equipes?
Alguns líderes inspiradores têm conseguido transformar seus sonhos estratégicos em uma bandeira construída em conjunto com sua equipe de colaboradores, que, por isso mesmo, está comprometida em empunhá-la, superar obstáculos e transformar o sonho em realidade.
Infelizmente, eles são exceção. Muitos líderes brilhantes se satisfazem com o sonho, com “o que” precisa ser feito, e negligenciam o “como” fazer. Não são capazes sequer de despertar em si mesmos a determinação e a perseverança indispensáveis para cumprir as etapas que se impõem. Como poderiam, então, conseguir isso dos outros? Esses líderes acham que o seu papel é conceber e o dos outros, executar.
Fazer acontecer, em vez de apenas planejar, é o mantra dos líderes inspiradores. “Fazejamento” proporcional ao planejamento é o que faz a diferença. Sempre foi assim. Personagens que exerceram a liderança em momentos decisivos da história foram grandes líderes pelo que realizaram, não apenas por sua visão privilegiada.
Comprometimento com a acabativa* é conseqüência da maior participação na construção da causa, da estratégia, dos objetivos. Na hora da concepção, o lugar do líder é no centro, com as pessoas em torno de si; não na frente, com pessoas atrás de si. Na hora da execução, aí sim, o lugar do líder é na linha de frente — e não no back office.
Pensar e fazer juntos, líderes e liderados, é o segredo para transformar as iniciativas em acabativas!
Fonte: Revista Exame
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