sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Variações na alimentação de vacas leiteiras durante os últimos 30 anos
Após anos de interação entre educadores, extensionistas e pesquisadores, novas abordagem e variações no manejo nutricional de vacas leiteiras ocorreram ao longo dos anos. Este artigo irá discorrer sobre as mudanças que ocorreram nos últimos 30 anos de avanços na nutrição de vacas leiteiras até o ano de 2011, e as estratégias, oportunidades e desafios para o futuro.
Lições aprendidas a partir de 1970
Na década de 70 intensificou-se a tecnologia de se trabalhar com milho de alta umidade, uma vez que se descobriu que a fibra da espiga de milho de alta umidade era igual ao milho grão ou na base da matéria seca. O impacto desses estudos iniciou o interesse no nível de fibra e digestão ruminal em condições com alto nível de amido devido ao nível de milho incluído na dieta. Nesta década também se pesquisou bastante técnicas de ensilagem, principalmente vertical, na tentativa de reduzir as áreas de mofo na massa ensilada.
Surgiu também o termo forragem emurchecida, que era o termo aplicado à estocagem de forragem em condições limitadas de oxigênio, quando comparado com silagem tradicional de capim. Ainda, a alimentação contínua de vacas leiteiras com silagem fermentada era atraente muito aos pecuaristas. Desta forma, técnicas de manejo, estratégias de adubação, seleção, desenvolvimento de híbridos, guias e manuais técnicos ensinando a colher e ensilar levaram à produção de forragem de alta qualidade que aumentaram a produção de leite significativamente.
Nas décadas de 80 e 90 intensificou-se o uso de subprodutos agroindustriais na alimentação animal, fato esse que ajudou a minimizar os custos de alimentação dos rebanhos leiteiros. Os atendimentos das agências governamentais e extensionistas passaram também a ser feito por telefone, o que ajudou a difundir novas tecnologias no campo.
Os modelos matemáticos que já vinham sendo desenvolvidos há tempos, ganharam novas interfaces nos anos 90 e facilitaram uma formulação refinada de rações para ruminantes, em especial para vacas leiteiras. Baixo nível de proteína baseado no balanceamento de aminoácidos e estimativa de produção de proteína microbiana reduziram os custos de produção e aperfeiçoaram a produção de leite. As facilidades advindas destes programas mecanicistas e os resultados bromatológicos de laboratórios dos grandes centros de pesquisa, permitiram impulsionar ainda mais o uso de resíduos na alimentação animal, reduzindo assim a competição entre animais e a população por produtos nobres como milho e soja.
Por fim, um dos grandes avanços de um passado recente foram os aprimoramentos realizados nos sistemas de estocagem de alimentos e logísticas relacionadas aos planos alimentares de rebanhos. Técnicas de ensilagem em sacos, bolsas, barracões dimensionados para armazenar feno, tratamento para conter fungos, umidade, etc, reduziram consideravelmente a perda de alimentos processados.
Estratégias de alimentação futuras
Uma linha de pesquisa forte em andamento no exterior é a alimentação de precisão. Alimentação de precisão pode ser definida como a entrega da mesma ração e forma todos os dias para cada vaca. Seguindo essa filosofia, os alimentos seriam processados de forma a manter sempre o mesmo aspecto físico e teor de nutrientes necessários para cada lote homogêneo de vacas, tudo controlado de forma minuciosa, como por exemplo o mesmo tempo que o vagão forrageiro mistura a ração e ordem alimentar.
O uso de rações contendo alto nível de forragem, acima de 65%, aparenta ser economicamente atraente. As competições por milho e soja agora não competem somente com a alimentação humana, mas no exterior, também com a produção de biocombustíveis, o que afeta os preços dos insumos para alimentação de vacas leiteiras.
Outra linha de pesquisa promissora é o sequenciamento genético, o que permitirá aos pesquisadores encontrar a combinação genética que poderia reduzir mastites, problemas de saúde de origem genética, dentre outros problemas. Outra vantagem da engenharia genética é a manipulação dos componentes do leite, permitindo produzir leite com 2 ou 4% de gordura, o que pode refletir em menor demanda de energia por vacas de alta produção.
Por fim, as pesquisas com novos aditivos estão emergentes com cordeiros e várias companhias estão empenhadas em aumentar a eficiência do rúmen. Enzimas podem aumentar a digestibilidade, provendo mais nutrientes para a vaca e para os micróbios do rúmen. As enzimas poderiam ser adicionadas à forragem no momento da ensilagem, ou o alimento poderia ser tratado momentos antes de ser oferecido aos animais, ou ainda ser fornecida de forma protegida do ataque dos microrganismos do rúmen por meio de uma técnica de encapsulamento, visando atuar somente no intestino das vacas. Esta técnica de encapsulamento é muito promissora para o suprimento de aminoácidos, ácidos graxos, niacina e colina.
Considerações finais
Pelo exposto no texto, fica evidente que a capacidade do rúmen das vacas em utilizar uma grande variedade de alimentos, como forragens, grãos destilados, resíduos, uréia, etc, é uma grande vantagem que nós humanos não temos, e deverá ser eficientemente explorada.
Fonte: Adaptação de um texto publicado pelo Professor e pesquisador Michael F. Jutjens, do Departamento de Zootecnia da Universidade de Illinois, EUA.
Autor: Junio Cesar Martinez Tangará da Serra - Mato Grosso
Doutor em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ), Pós-Doutor pela UNESP e Universidade da California-EUA. Professor da UNEMAT.
Fonte: Milkpoint
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