terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Agricultura de baixo carbono, um modelo brasileiro

Como surgiu o Programa ABC? Como ele funciona? Qual será o impacto econômicode sua adoção no Brasil? O assessor técnico da Comissão Nacional do Meio Ambiente da CNA Nelson Ananias Filho respondeu essas e outras perguntas para você ficar por dentro do programa que vai revolucionar a agricultura brasileira. Veja abaixo: Como surgiu o programa ABC? Explique um pouco sobre como ele funciona. O programa surgiu da necessidade de criar linhas de financiamento e crédito específicos para incentivar a adoção de tecnologias que evitem a emissão ou capturem os Gases de Efeito Estufa (GEEs). O público alvo é formado por produtores rurais e suas cooperativas, inclusive, para repasse aos associados. Através da apresentação de um projeto técnico para uma instituição bancária, este público terá acesso a recursos financeiros, com juros e formas de pagamento diferenciados, e que possibilitem a adoção de práticas como a recuperação de áreas e pastagens degradadas, a implantação de sistemas orgânicos de produção agropecuária e a adequação ou regularização das propriedades rurais frente à legislação ambiental. -A agricultura de baixo carbono é baseada em um mecanismo chamado“sequestro” de carbono. Como ele funciona? Funciona por meio da adoção das seguintes tecnologias: Recuperação de pastagens degradadas: a recuperação e manutenção da produtividade das pastagens contribuem para mitigar a emissão dos gases do efeito estufa, o que permitiria também um aumento da capacidade de suportedessas pastagens, dos atuais 0,4 para 0,9 unidades animais por hectare (UA/ha), reduzindo a pressão pela conversão de novas áreas em pastagens. Integração lavoura-pecuária-floresta(iLPF): Ossistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e os sistemas Agroflorestais (SAFs) são estratégias de produção sustentável que integram atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema. A expectativa é aumentar a área com sistemas iLPF e Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 4 milhões dehectares. Sistema Plantio Direto (SPD): Além de contribuir para o aumento da resiliência do solo, a adoção do SPD resulta na redução da emissão dos gases de efeito estufa, mediante redução da degradação de matéria orgânica do solo, de combustível fóssil pelo menor uso de maquinário e redução na adubação. Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): é amplamente reconhecida, pois, reduz os riscos para o meio ambiente pela redução de emissão de gases de efeito estufa, além de reduzir o custo da produção, elevar o conteúdo de matéria orgânica (seqüestro de carbono) e melhorar a fertilidade do solo. Florestas Plantadas: A produção de florestas plantadas(econômicas) nas propriedades rurais poderá contribuir para a redução de 8 a 10 milhões de toneladas de CO2 eq, uma vez que a expansão dessa atividade deverá se dar sobre áreas de pastagens degradadas, onde há emissões oriundas da degradação de matéria orgânica no solo, e pela fixação de carbono na biomassa florestal. A Adoção das tecnologias citadas propiciam a fixação de carbono no solo e nas plantas, além de reduzir as emissões dos GEEs. - Na COP-15, o governo brasileiro divulgou o compromisso de reduzir entre 36,1% e 38,9% a emissão de CO2 até 2020. Como o programa ABC pode ajudar o Brasil a cumprir essas metas? Os compromissos da agricultura referem-se a ações que implicarão em redução das emissões projetadas até 2020, entre 133 a 166 milhões t CO2 eq, por meio da adoção de tecnologias desenvolvidas e aperfeiçoadas pelos institutos de tecnologias agropecuárias. -Quais são os principais desafios que o país vai ter que enfrentar para que o programa funcione como esperado? O Brasil precisa continuar estimulando o desenvolvimento, com a produção crescente da agricultura, para gerar divisas com a exportação, mas, sobretudo, para alimentar a população brasileira. A questão ambiental associada com a redução das emissões de gases de efeito estufa são necessidades fundamentais no desenvolvimento do Brasil, o que concretiza diversos novos imperativos para os produtores e para a ação governamental. Será preciso enfrentar um duplo desafio: estimular o crescimento e reduzir as emissões de GEE e, para tanto, a agricultura brasileira dispõe de tecnologias mitigadoras dos gases de efeito estufa e que podem ser incorporados pelos agricultores no seu processo de produção. -A agricultura de baixo carbono já é utilizada em outros países? Em quais? Como essa prática é vista no exterior? Não temos notícias sobre políticas análogas a esta no mundo. O Brasil desenvolveu e aperfeiçoou estas tecnologias que já fazem parte da rotina de muitos proprietários rurais. O Programa apenas favorece a adoção destas tecnologias a quem ainda não teve acesso a elas. -Qual será o impacto econômico da adoção da agricultura de baixo carbono no Brasil? Para o meio ambiente, não há dúvida deque ela é favorável, mas e para a economia? Ela é mais ou menos rentável que a agricultura tradicional? As vantagens da adoção destas tecnologias sustentáveis são extremamente benéficas à economia. Por um lado, o produtor poderá incorporar ao processo produtivo as tecnologias sustentáveis para uma produção mais eficiente, que proporciona o aumento da renda através do incremento da produtividade e da diversificação da produção. Por outro, o país ganha agregando a variável ambiental em seus produtos de exportação, evitando a incidência de barreiras não tarifárias. Os benefícios do programa ABC em números poderão ser avaliados no final deste ano quando fecharemos o primeiro ciclo do programa, que com certeza será positivo. Nelson Ananias Filho é assessor técnico da Comissão Nacional do Meio Ambiente Fonte:http://agriculturabaixocarbono.wordpress.com/2012/02/06/entrevista-saiba-mais-sobre-o-programa-abc/

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