sábado, 30 de julho de 2011

Histórico - Sobre o Zebu em Uberaba

"No derradeiro quartel do século XIX, o Brasil Central, debatendo-se contra a degenerescência da sua pecuária bovina, lançou mão de reprodutores bovinos de todas as raças que em outros centros do país iam chegando. Mas, o resultado foi negativo. Os criadores do Brasil Central sem um minuto de desfalecimento, lançaram mão da raça zebu que veio, de uma vez, resolver a questão, mau grado a terrível campanha que os criadores paulistas, mineiros e outros fizeram e muitos ainda hoje fazem. E a luta vem de longe. Foi em 1875 que se introduziram, no Triângulo, os primeiros exemplares de gado de raça zebu. O major José Inácio de Melo França, natural de Desemboque, adiantado criador e proprietário da fazenda Santa Rosa do Rochedo, município de Jataí, Estado de Goiás, falecido a 7 de setembro de 1929, asseverou-me que, em 1875, se achando no Rio de Janeiro, fora passear em Santa Cruz, e aí comprara. diversos reprodutores bovinos de raça zebu que trouxera para o município de Uberaba. Eram exemplares da variedade "Nelore" e os primeiros daquela raça aqui introduzidos.
[...] Em princípios de 1889, o major Ernesto da Silva e Oliveira, achando-se em Porto Novo do Cunha, aonde fora a negócios de gado, aí viu uma raça de bovinos que lhe chamou a atenção pela originalidade do seu todo. Eram exemplares da raça zebu que ali já se criavam de longa data. Desse gado comprou dois touros que trouxe embarcados até Três Corações e daí por terra, até Uberaba.
[...] Em viagem para Uberaba, conduzindo aqueles touros, o major Ernesto da Silva e Oliveira, encontrou-se com o sr. Antônio Fontoura Cachucha, que se mostrou bastante interessado na aquisição de alguns exemplares daqueles bovinos.
Ciente da sua procedência, dirigiu-se a Porto Novo do Cunha, às fazendas dos senhores Marcondes e dr. Lontra, dos quais comprou sete novilhos que trouxe e vendeu, neste município, a diversos fazendeiros, maior parte dos quais membros da família Rodrigues da Cunha. Anteanimados com a superioridade do zebu, na regeneração do nosso gado bovino, foi que distintos criadores deste município voltaram, com interesse, as suas vistas para esse gado.
Efetivamente, pouco depois, questão de meses, partiu de Uberaba, com destino a Porto Novo, o coronel Teófilo Rodrigues da Cunha, onde adquiriu e trouxe para a sua fazenda Gengibre, a quarta partida de reprodutores zebu introduzida no Triângulo.
Vendendo bem a sua primeira leva, o sr. Cachucha aconselhou ao major Ernesto da Silva e Oliveira a continuar no mesmo ramo de negócio, por ser de primeira ordem.
Este conselho fê-lo voltar ao Rio de Janeiro, para a aquisição da quinta leva de gado zebu que para aqui veio e vendeu a diversos fazendeiros do município, a conto de réis e mais, por cabeça.
Dos dez exemplares de que se compunha esta partida, um foi vendido ao capitão Antônio Borges de Araújo, e foi ele o primeiro touro de raça indiana que entrou para os campos de sua extensa propriedade pastoril.
A sexta leva de reprodutores da raça em apreço foi trazida, ainda de Porto Novo, pelo capitão Joaquim Veloso de Rezende, para os capitães José e Antônio Borges de Araújo. Compunha-se de 4 cabeças, sendo dois touros e uma novilha puros e um garrote de 3/4 de sangue, chegado em Uberaba no dia 29 de novembro de 1889. Este gado foi o primeiro de tipos puros, de grandes orelhas. Um dos touros era o célebre Lontra, cujo proprietário, capitão Antônio Borges de Araújo, por ele rejeitara, naqueles bons tempos, a gorda oferta de 42 contos de réis!
[...] Muitas outras importações se fizeram depois do capitão Joaquim Veloso até que, em 1893, o coronel Teófilo de Godói, de Araguari, por encargo de diversos criadores do município de Uberaba, foi à Índia, de onde trouxe, diretamente, a primeira leva de gado zebu importado. Depois dessa algumas dezenas de levas ainda foram trazidas de Porto Novo e outros lugares do Rio de Janeiro para criadores de Uberaba (1891-1905).
De 1905 a 1921, cerca de 40 levas foram ainda importadas das índias por criadores de Uberaba, representando outras tantas centenas de cabeças de bovinos a dois contos de réis e mais por unidade.
Hoje - está demonstrado - Uberaba possui melhor gado zebu que a própria Índia.
Neste município, o zebu importado encontrou um meio no qual se acha melhor do que no país de onde é originário. A rês, aqui, tem outro aspecto: maior peso, elegância das linhas do corpo, mansidão etc.
Daí formou-se uma raça zebu nacional a que já se deu o nome de Indubrasil, devidamente registrada pelo Herd-Book Zebu de Uberaba de que foi instituidor, há anos, o saudoso dr. José Maria dos Reis.
A criação faz-se pelo sistema extensivo. Daí o não haver, no município, a criação estabulada e sim a semi-estabulada para o gado zebu.
Há três espécies de criadores: o que cria o gado de raça fina para reprodutor; o que cria o gado para o talho e o que se incumbe da era de garrotes para qualquer dos dois fins.
No distrito da cidade há três banheiros carrapaticidas.
Os males que flagelam os rebanhos locais são a diarréia ou pneumo-enterite dos bezerros, a peste da manqueira ou carbúnculo sintomático e o carbúnculo hemático, nos bovinos de sobreano a menos, e o hog-cólera ou batedeira dos leitões, males estes que se curam uns e se previnem outros com o emprego de soros e vacinas anti-carbunculosas.
Na pecuária bovina o sangue zebu substituiu, inteiramente, o sangue das raças antigas do país: china, pedreira, caracu etc.
Hoje, só há predominância das raças indianas: Guzerá, Gir e Nelore [...]."
(PONTES, 1978)

(Obs: O historiador Hildebrando de Araújo Pontes viveu no período de 1879 a 1940.)

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"O zebu sofreu no Brasil, por ocasião de sua introdução no país e de sua adaptação ao meio, uma dura e severa campanha.
Dirigiu-a principalmente o ilustre Sr. Dr. Luís Pereira Barreto, homem de justo prestígio nos meios intelectuais e científicos de nossa pátria, médico, filósofo positivista e sociólogo.
Pela imprensa e pelo tribunal, em discursos e conferências, levou ao extremo a luta contra o gado indiano.
Dizia que o zebu não possui valor econômico, pois, sua carne é dura, não é gado leiteiro (sua produção de leite é inferior à das raças européias) e é um animal rude e selvagem. Além disso, tem carne almiscarada.
Essa campanha impressionou, vivamente, numerosos fazendeiros e mesmo as esferas governamentais do país.
O zebu passou a ser repudiado, em muitos lugares. Nem era aceito nas exposições.
Era considerado um “bicho”.
O Cel. José Caetano Borges e o Dr. José Maria dos Reis levaram, certa vez, uma leva de zebus a uma Exposição, em Belo Horizonte.
O gado foi recusado, não queriam admiti-lo.
Foi necessário que os distintos uberabenses se dirigissem a João Pinheiro, o grande estadista que presidia Minas Gerais que, com sua segura visão dos fenômenos econômicos e sociais, determinou que o rebanho fosse recebido na Exposição e, mesmo, julgado.
Para provar que a carne do zebu não é almiscarada, o Cel. Antonio Borges de Araújo, um dia, abateu uma novilha de raça, em pleno largo da Matriz (Praça Rui Barbosa).
Os uberabenses suportaram, com denodo e firmeza, essa terrível campanha. E venceram-na, magnificamente, pelo bem do Brasil.
Aliás, devemos observar que o ilustre Sr. Dr. Luís Pereira Barreto não foi feliz, nas principais lutas que desenvolveu, no país: a que fez contra o zebu e as que empreendeu pelo cultivo do “Café Bourbon” e da Maniçoba."
(MENDONÇA, 1974)

Quem foi Fernando Costa
"Fernando de Souza Costa nasceu em São Paulo (SP) em 1886.
Era filho de Coronel Querubim Fabiano da Costa e Sra. Augusta de Souza Costa.
A vida pública brasileira teve em Fernando Costa um de seus mais lídimos representantes, pelos relevantes serviços prestados para a solução dos problemas maiores da administração, merecedor da admiração e respeito.
Após seus primeiros estudos realizados no tradicional Colégio Coração de Jesus, matriculou-se na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, vindo a diplomar-se em 1907.
Casou-se coma Sra. Anita da Silveira Costa, passando a dedicar sua atividade à agricultura e à indústria, em Pirassununga.
Iniciou sua carreira política em 1912, sendo eleito prefeito municipal de Pirassununga.
Foi eleito deputado federal em 1918, sendo reeleito por várias vezes consecutivas.
Exerceu o cargo de Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, de 1927 a 1930, reestruturando seus departamentos, ocupando, em 1935, o Departamento Nacional de Café.
Em 1937, foi nomeado Ministro da Agricultura, criando então o Serviço de Registro Genealógico e o parque de exposições de Uberaba. Determinou a construção da Escola Nacional de Agronomia, criou pastas zootécnicas e estações experimentais.
Em 5 de junho de 1941, foi indicado e nomeado governador do Estado de São Paulo, cargo que veio a ocupar até a data de 3 de outubro de 1945. Fez a reforma do Instituto Agronômico de Campinas, criou a Diretoria da Indústria Animal, desenvolveu o Serviço Florestal, fundou o Instituto Biológico de São Paulo.
Imprimiu novas bases à indústria animal e criou o Departamento de Lacticínios da Indústria Animal, com seções de bromatologia, lacticínios psicultura, fomento, apicultura e avicultura, criando, na Água Branca, o grande parque destinado à sua sede.
Criou a diretoria do Fomento da Agricultura e as Divisões do Café, Cereais, Leguminosas e Algodão, além de criar 74 centros de puericultura, escolas práticas de agricultura, Casa do Trabalhador, a Casa do Fazendeiro e o Instituto de Zootecnia da indústria da pecuária, em Pirassununga.
[...] se interessou pelo zebu e incitou muita gente, ainda confusa, a criá-lo, abrindo as fronteiras paulistas para as raças indianas que aportavam de Minas.
[...] Preparando-se para se eleger governador de São Paulo, democraticamente, ele foi ceifado em 1945 por um acidente de automóvel na Via Anhanguera.
Têm o seu nome os parques pecuários de São Paulo e de Uberaba, sendo que o de Uberaba iniciou sua construção em 1938, inaugurado em 1941, mantém até hoje a mesma estrutura arquitetônica da época em que foi construído.
O Parque Fernando Costa de Uberaba é da máxima importância para nossa cidade uma vez que realiza anualmente a exposição internacional de zebuínos que coloca Uberaba como um dos mais importantes poios turísticos do Brasil, recebendo delegações de todos os Estados brasileiros e do Exterior."
(CICCI, 2000)

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