Ao contrário dos agricultores e pecuaristas do nosso tempo, nossos antepassados da Revolução Agrícola NÃO teriam praticado conscientemente a SELEÇÃO ARTIFICIAL com vistas a características desejáveis. Duvido que eles se dessem conta de que, para aumentar a produção de leite, é preciso cruzar vacas boas produtoras com touros nascidos de OUTRAS vacas boas produtoras e DESCARTAR a cria dos animais que não produzem bem.”, Richard Dawkins, 2009.
Criou-se a cultura de que o mercado é a referência para o sucesso de todo empreendimento. A partir de então, o produto campeão de venda é sustentado pelo que se define de marketing, que consiste na performance de atividades que buscam realizar antecipadamente às necessidades e tendências do consumidor. Muda conforme a mudança do consumidor; conforme a alternância dos anos ou a transformação de tendência. Marketing é o mercado em movimento.
Não basta simplesmente conhecer o mercado; é necessário identificar as oportunidades, estimular o interesse sobre o produto que se pretende vender, avaliar as forças dos concorrentes, calcular a demanda e definir o consumidor alvo.
O sucesso da raça Gir se deve dentre outros fatores ao posicionamento exclusivo e diferenciado que lhe foi dado através da poderosa expressão “gir leiteiro”. Ao indicar a funcionalidade leiteira para a raça trazendo um sinal de qualidade e um fator de diferenciação, transformou a raça no que os americanos chamam de trustmark: absoluta confiança que acaba por gerar uma relação de cumplicidade com os consumidores. A satisfação e compensação oferecida ao consumidor pela cumplicidade incorporou culturalmente o que é ser criador de “gir leiteiro” e o que isto representa em forma de prazer.
Sempre digo que a expressão “gir leiteiro” passou a funcionar holisticamente possibilitando ao seu criador/consumidor autoafirmar sua identidade na raça, e, simultaneamente, o integrou em sociedade passando a definir consciente e inconscientemente suas atitudes de consumo. O feedback de relações/ experiências positivas com a "expressão" e melhores preços no mercado geraram outro tipo de cumplicidade, tornando o criador/consumidor um advogado da causa.
Chega um momento em que a mudança no criador/consumidor não só virá com a alternância dos anos ou pela transformação de tendência, mas pela necessidade de sobrevivência no negócio. E isso, já começa a acontecer. Toda pressão seletiva sobre o leite na Gir fechou em C.A. Everest. Animal que, onde lhe houve uma predominância no acasalamento, aconteceu. Filhos e filhas, netos e netas estão aí para comprovar sua eficiência genética para a produção de leite. Na pressão seletiva leiteira brasileira, sem C.A. Everest não há salvação? Não é bem assim.
Dawkins define: “é preciso cruzar vacas BOAS produtoras com touros nascidos de OUTRAS vacas BOAS produtoras e DESCARTAR a cria dos animais que não produzem bem.” Atentem para a palavra OUTRAS. Vamos ver o que diz Rinaldo dos Santos, 1996: “Diz a Zootecnia que o máximo de melhoramento é conseguido pela união de extremos. Assim, para obter um melhoramento em leite, basta acasalar duas famílias leiteiras diferentes. O produto F-1 é a expressão máxima de heterose nos cruzamentos […] A heterose pode ser obtida, também, pelo uso de raças diferentes, ao invés de famílias da mesma raça […] tem-se o máximo de heterose inter-racial.
Vale lembra que heterose é o estado em que a primeira geração dum híbrido é mais forte do que qualquer das famílias ou raças paternas. Contudo, não devemos esquecer que o gene não contamina sexualmente. "Um indivíduo descende de dois genitores, mas um gene tem apenas um genitor. Cada um de seus genes tem de ter vindo ou de sua mãe ou de seu pai, de um e apenas um dos seus quatro avós, de um e apenas um de seus oito bisavós, e assim por diante." Richard Dawkins, 2009.
Agora vamos atentar para a palavra DESCARTAR utilizada por Dawkins. Ela significa no processo seletivo ELIMINAR e não DESFAZER-SE do animal menos produtivo. A credibilidade de um processo de melhoramento genético inicia-se pela identificação correta dos animais; depois pela veracidade dos dados coletados a campo, vez que o técnico responsável pelo melhoramento genético trabalha com dados a ele apresentados; e, finalmente, a seriedade de descarte (abate) dos animais considerados improdutivos para o trabalho que se deseja. Com isso, a mudança no criador/consumidor não virá com a alternância dos anos ou alteração de tendência, e sim, pela necessidade de continuidade no negócio, que muita das vezes ocorre de maneira compulsória pelo investimento já ocorrido.
Citado C.A. Everest por ser o representante dentro da raça que predomina nos Sumários de Touros Leiteiros, contudo, isto não significa que não haverão outros. Claro que sim! Ainda não apareceram por falta de um trabalho de melhoramento genético, onde os resultados financeiros sejam consequência do trabalho de pesquisa, e não ao contrário, como costumeiramente esse "desafio" cientifico é trabalhado no Brasil.
Por isso, acredito numa premência de pesquisas sobre animais que fogem ao lugar comum já pesquisados e com largo material genético disponível no mercado, para que a EVOLUÇÃO DA RAÇA sobreponha de maneira universalizada sobre marcas e rótulos.
Luiz Humberto Carrião
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