Aliar de forma positiva pecuária e meio ambiente está ao seu alcance
Publicado em: 20/10/2011
O sistema visa conciliar as exigências das pastagens e do gado.
Certamente você já ouviu falar da pecuária sustentável. Esse é o termo designado às atividades de criação de animais baseadas em técnicas que não prejudiquem ou que reduzam os danos causados à natureza. As alterações climáticas, a redução da mata nativa e a disponibilidade de água potável são os fatores que motivam a forte propagação de práticas ecológicas no meio rural.
É verdade que a pecuária provoca sérios impactos ambientais. Ela envolve o desmatamento para a implantação de pastagens, e é responsável por uma alta produção de metano, derivada da fermentação ruminal e dos dejetos dos animais. Esses resíduos também poluem cursos d'água, junto com pesticidas e fertilizantes. Mas também é fato que essas consequências negativas podem ser evitadas.
Tendo em vista tal realidade e a crescente necessidade mundial de preservar o meio ambiente, surgiram, ao longo dos anos, várias alternativas de tornar a pecuária uma atividade sutentável. Um exemplo é o que ocorre na Fazenda Ecológica Santa Fé do Moquém, localizada em Nossa Senhora do Livramento – MT. Nesse local, são adotados meios de produção que ajudam não só a preservar a mata nativa mas também a recuperar áreas degradadas.
O curso Formação e Manejo de Pastagem Ecológica, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas, oferece opções de métodos que contribuem para a execução de práticas sustentáveis. O engenheiro agrônomo Jurandir Melado é professor do curso citado e também da UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso, além de ser coordenador técnico da Fazenda Ecológica Santa Fé. Ele explica e ajuda a entender como as pastagens e os recursos hídricos são beneficiados, possibilitando, inclusive, a saúde e a produtividade do rebanho.
Pastagens ecológicas
Na referida fazenda, localizada na região do cerrado, existe uma pastagem de boa qualidade e com biodiversidade de forrageiras, obtida sem os procedimentos de destruição prévia do ecossistema original. O metódo utilizado é baseado nos estudos de André Voisin, segundo o qual “é mais conveniente recuperar uma pastagem através do manejo racional do que realizando uma nova aração e ressemeio”.
A proposta apresentada pelo curso sugere o emprego do Pastoreio Racional Voisin e a introdução de espécies melhoradas de capim. A princípio, para inserir as novas forrageiras, retira-se a vegetação já presente e ao longo do tempo ocorre uma competição natural que conduz a um novo equilíbrio. Mantém-se a biodiversidade por meio da coexistência entre gramíneas melhoradas e espécies nativas.
Depois de quatro anos, o resultado obtido é a pastagem ecológica. Para compreender melhor como isso acontece, divide-se o processo em três fases (piquetes, semeação das forrageiras selecionadas e rodízio do gado pelas áreas semeadas). No início, efetua-se um levantamento topográfico e reparte-se a área do terreno em aproximadamente 40 piquetes. É preciso também construir corredores, cercas (convencional e elétrica) e distribuir bebedouros e saleiros.
Sistema de Pastoreio Racional Voisin
Esse tipo de pastoreio proporciona produtividade do pasto, alimentação rica para o gado.
Trata-se de um recurso para o manejo do gado e da pastagem. Nesse sistema, ocorre um rodízio do gado entre os piquetes, ou seja, enquanto o gado utiliza um piquete, os outros permanecem em repouso. Essa ação contribui para o sequestro de carbono, pois a vegetação cresce maximizando a fotossíntese. Além disso, se a operação for efetuada corretamente, proporciona produtividade do pasto, alimentação rica e variada para o gado, o que colabora para a redução de liberação do metano.
Em síntese, além de empregar todos os procedimentos já citados, essa forma de pastoreio visa essencialmente atender tanto às exigências das pastagens quanto as do gado. Para isso, Voisin sistematizou quatro leis a fim de garatir que isso aconteça. A intenção delas é que as forrageiras sejam colhidas no tempo certo, respeitando o ciclo, e que os animais sejam protegidos.
A primeira lei do pasto diz que, para alcançar a produtividade, é necessário haver entre dois pastoreios tempo para acumular reservas nas raízes, o que ajuda no rebrote. A segunda determina que o tempo de ocupação de um piquete seja suficientemente curto a fim de que a rebrotação da planta não seja colhida pelos rebanho.
Já as seguintes se referem aos animais. A terceira estabelece que é necessário contirbuir com aqueles que possuem exigências alimentares mais elevadas. Eles precisam consumir grande quantidade de pasto e de boa qualidade. Sendo assim, a solução é oferecer a eles gramíneas com 22 cm. A quarta lei, por sua vez, versa que o animal não deve permanecer mais que três dias em um piquete.
Recursos Hídricos
No sistema voisin, ocorrem condições que favorecem a permeabilidade do solo e consequentemente a armazenagem de água pelos reservatórios, a diminuição da erosão e do assoreamento dos cursos d'água. De acordo com o professor Jurandir Melado, isso acontece porque, como não há execução de queimadas, o terreno fica repleto de micro-organismos e isso favorece a retenção de matéria orgânica. Assim, além de aumentar a fertilidade do solo, colabora para a infiltração da água.
Outro fator positivo advém da utilização dos bebedouros nos piquetes. Tal medida faz com que o gado não precise ir aos rios ou córregos, o que evita o pisoteio intenso dessas áreas, bem como a contaminação da água.
Por Luci Silva
Fonte: www.cpt.com.br
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