segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um pouco da História de Criadores da raça GIR

Repaginado no Grupo "Giristas de Carteirinha" (Grupo do Facebook) por Luiz Humberto Carrião, na qual, compartilho na íntegra:

"Texto publicado na Revista Gir & seus cruzamentos [órgão oficial da Associação Brasileira dos Criadores de Gir – ASSOGIR]. Ano 1, nº 6 – Agosto/setembro/2003

"[Aqui repaginado por solicitação do criador-diretor da ASSOGIR, Waldir Barbosa de Oliveira Junior]

O Gir entristeceu: morreu Jairo de Andrade

“Quando ele próprio se libertou de todo desejo de seu coração, o mortal deste mundo, tornou-se imortal em Brahman. Na verdade, tudo é Brahman.”

Apesar de estar localizado na maior cidade brasileira, o ambiente traduz a beatitude divina.

Um pórtico esboçado na arquitetura oriental dá passagem àqueles que vão ao reencontro da Divindade. Ali, o silêncio é como a música, não atua pelo que diz, e sim, pelo que é – uma linguagem universal.

Um estreito caminho calçado com bloquetes, arborizado de ambos os lados leva a uma capela não muito distante da entrada. Uma plataforma de concreto em formato de mesa retangular aguarda sempre o próximo sarcófago. É necessário pela legislação que se aguarde no mínimo 48 horas para o início do ritual.

Um forno de altíssima potencialidade calórica é acoplado à reduzida Capela por um túnel equipado por uma esteira rolante. Uma pequenina urna de porcelana abriga o que restou da menor individuação de Deus na Terra.

A Alma, agora Espírito, com a volatilidade ao desligar-se de seu invólucro biológico dirige-se a algures inimagináveis nesta amplitude infinita diante de nossos olhos. E foi ali, aos acordes do Prelúdio nº 1 para Cravo, de Johann Sebastian Bach, seguido pela Ave Maria de Charles Gounot, que se cumpriu a seu pedido o ritual hindu.

O grande jequitibá, o homem que muitos consideravam imortal, de sorriso leve, cabelos grisalhos a farfalhar, sempre vestido de branco e com uma paixão inigualável pelo Gir, em poucos segundos foi reduzido a um punhado de cinzas, que no dia seguinte, carregado pelos netos, numa sepultura simples no Cemitério Jardim das Palmeiras, foi depositado para ficar na saudade de todos nós.

Na última visita ao casal Góes, Leda e Aderbal, na Chácara Canaã D’Gal relembrava das odisséias pelas exposições por este Brasil afora; das brigas por melhores pavilhões para a raça Gir; das influências nos julgamentos dos animais; de suas paradas em Corumbaíba para tomar sorvete no Pingo de Mel; de sua luta pra manter-se vivo; já cansado e bastante emotivo, sempre enxugando as lágrimas em meio aos versos que declamava dizia a Aderbal que deveriam a partir de então, encontrar-se ao menos quinzenalmente, pois o tempo cumpria a cada dia o seu papel. Era uma despedida.

Homem de determinação ímpar que sempre deixou de lado o passado, arquitetando no presente os planos para o futuro.

Na véspera de sua morte lá estava ele na Fazenda Forquilha, em Redenção, no sul do Pará, juntamente com os empregados dentro do curral apartando gado.

A garra e a determinação de viver sempre falaram mais alto até o dia 4 de agosto último (2003), quando encontrou no Nirvana – o paraíso – abandonado Maya – a ilusão – em busca de seu encontro com Brahman – a Divindade – para integrar-se ao imenso mar celestial, que na adversidade, estabelece e mantém a harmonia do Universo.

Se a sua partida deixou um rasto de saudade entre aqueles que ficaram, lá em cima a coisa foi diferente quando se encontrou com Rodolfo Machado Borges, Celso Garcia Cid, Tarley Vilela, Evaristo Soares de Paula, Ene Sab, Vicente de Souza Araujo Junior, e tantos outros.

Luiz Humberto Carrião

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